O que os espíritas precisam saber XII
A meta é a renovação social.
O Espiritismo surgia exatamente em consequência da reação espiritualista racional, como afirma Kardec: “Foi, pois, nesse momento, que veio resolver esses problemas, não por hipóteses, mas por provas efetivas, dando ao Espiritualismo o caráter positivo único que convém à nossa época” (KARDEC, [RE] 1863, p. 196). Essa abordagem metódica e científica no diálogo com os Espíritos, permitindo a elaboração de uma doutrina espiritualista e liberal baseada no ensino dos Espíritos superiores, marcou um novo ciclo para o Espiritismo, o período filosófico, transferindo para a França a continuidade daquele movimento anteriormente ocorrido nos Estados Unidos:
Os fatos lá primeiro despertaram a curiosidade; mas constatados os fatos e satisfeita a curiosidade, logo deixaram as experiências materiais sem resultados positivos; não ocorreu mais o mesmo desde que se desenvolveram as consequências morais desses fatos para o futuro da Humanidade; desde esse momento o Espiritismo tomou lugar entre as ciências filosóficas; caminhou a passos de gigante, apesar dos obstáculos que lhe suscitaram, porque satisfazia as aspirações das massas, porque se compreendeu prontamente que vinha preencher um vazio imenso nas crenças e resolver o que até então parecia insolúvel. (KARDEC, [RE] 1864, p. 96)
Sendo a moral dos Espíritos superiores a mesma dos espiritualistas racionais (moral autônoma, baseada no ato do dever, que é livre, consciente, voluntário), os dois movimentos se uniram na luta contra os seus maiores inimigos, a incredulidade materialista e o fanatismo dogmático.
Nos primeiros anos, ainda não lhe davam muita atenção. Mas, quando começaram a se propagar em todas as classes sociais, por todo o mundo, segundo Kardec, “os interesses na conservação das ideias antigas se alarmaram seriamente”, e, desde esse momento, “os ataques tomaram um caráter de violência estranha; a palavra de ordem foi dada; sermões coléricos, pastorais, anátemas, excomunhões, perseguições individuais, livros, brochuras, artigos de jornais, nada foi poupado, nem mesmo a calúnia” (KARDEC, [RE] 1863, p. 250).
Estava iniciado o período de luta.
Em dezembro de 1863, Kardec considerava o Espiritismo em pleno período de luta, pois, “vendo a inutilidade do ataque a céu aberto, vai se tentar a guerra subterrânea, que já se organiza e começa; uma calma aparente vai se fazer sentir, mas é a calma precursora da tempestade”:
Espíritas, sede-o, pois, sem inquietação, porque o resultado não é duvidoso; a luta é necessária, e o seu triunfo não será senão mais brilhante. Eu disse, e o repito: vejo o objetivo, sei como e quando será alcançado. Se vos falo com esta segurança, é que tenho para isso razões sobre as quais a prudência quer que me cale, mas as conhecereis um dia. Tudo o que posso vos dizer é que poderosos auxiliares virão, que fecharão a boca a mais de um detrator. (Ibidem)
Os novos detratores não falam mais dos púlpitos em seus sermões, nem são os materialistas tentando ridicularizá-lo perante o público. O plano dos inimigos invisíveis a partir de então é atacar o Espiritismo por dentro, por meio dos adeptos seduzidos por eles. Kardec sabia muito bem disso, avisado pelos Espíritos superiores; “a maioria das comunicações que se obtêm hoje, nos diferentes centros, tem por objeto premunir os adeptos contra as astúcias de seus adversários”, e a situação encontra-se completamente resumida na seguinte comunicação de Erasto:
Não sereis martirizados corporalmente, como nos primeiros tempos da Igreja, nem levantarão fogueiras homicidas, como na Idade Média, mas vos torturarão moralmente; se vos levantarão armadilhas; se vos estenderão emboscadas tanto mais perigosas quanto nela se empregarão mãos amigas; agirão na sombra, recebereis golpes sem saber por quem esses golpes são trazidos, e sereis atingidos em pleno peito pelas flechas envenenadas da calúnia. (KARDEC, [RE] 1863, p. 251)
Ou seja, foi exatamente o que ocorreu anos depois, após a morte de Kardec, quando antigos associados tomaram a Revista e a Sociedade para atacar Kardec e divulgar seitas opostas à Doutrina Espírita, como o roustainguismo e a teosofia, “mãos amigas agindo na sombra”, como profetizou Erasto, audaciosamente disparando flechas da calúnia contra o mestre, nas páginas de sua própria Revista Espírita! Continua Erasto, em sua comunicação:
Nada faltará às vossas dores; suscitarão fraquezas em vossas fileiras, e supostos espíritas, perdidos pelo orgulho e pela vaidade, se colocarão em sua independência exclamando. “Nós é que estamos no caminho reto!”, a fim de que vossos adversários natos possam dizer: “Vedes como são unidos!”. Tentar-se-á semear o joio entre os grupos, provocando a formação de grupos dissidentes. (Ibidem)
Como exemplo dessa previsão aqui denunciada, ocorreu o desvio causado pela campanha de oposição feita pelo advogado Roustaing, dizendo-se “o escolhido a quem Allan Kardec deveria ter dado lugar, se não fosse orgulhoso”, como afirmariam os discípulos roustainguistas anos depois.
Todavia, uma questão ainda mais perigosa iria ocorrer, em virtude do interesse financeiro, o grande perigo enfrentado pelos médiuns, que, segundo o Espiritismo, devem se abster de qualquer ganho, mesmo indireto, no exercício de suas tarefas espirituais. E então Erasto alertou:
Captar-se-ão vossos médiuns para fazê-los entrar no mau caminho ou desviá-los de ir aos grupos sérios; se empregará a intimidação para uns, a captação para os outros; se explorarão todas as fraquezas. Depois, não esqueçais que alguns viram no Espiritismo um papel a desempenhar, e um primeiro papel, que sentem hoje mais de uma má sorte em sua ambição. Ser-lhes-ão prometidos de um lado o que não podem encontrar do outro. Depois, enfim, com o dinheiro, tão poderoso em vosso século atrasado, não se podem encontrar comparsas para desempenhar comédias indignas, a fim de lançar o descrédito e o ridículo sobre a Doutrina? (Ibidem)
Aqui está descrito o papel que desempenharia Leymarie, antigo médium da Sociedade Parisiense, explorando financeiramente o movimento espírita, promovendo “comédias indignas” ao atender às inspirações dos inimigos invisíveis que “exploraram todas as suas fraquezas”. O médium agiu como uma ovelha negra, segundo Canuto Abreu, ou como o coveiro do Espiritismo, segundo Chico Xavier.
Por fim, depois de tão grande desastre, é hora de resgatar as origens, cumprindo os deveres como espíritas, pois a vitória do Espiritismo ocorrerá certamente, como afirmou Erasto: “Eis as provas que vos esperam, meus filhos, mas das quais saireis vitoriosos, se implorardes do fundo do coração o socorro do Todo-Poderoso”. Os tempos estão chegados, e tudo se restituirá em seus devidos lugares. Mas há uma condição fundamental para que isso ocorra, alerta o Espírito aos pioneiros, defensores da Casa Espírita:
Por isso, eu respiro de toda a minha alma: meus filhos, cerrai vossas fileiras, permanecei sobre o que vive, porque é o vosso Gólgota que se levanta; e se, por isso, não sois crucificado em carne e osso, vo-lo sereis em vossos interesses, em vossas afeições, em vossa honra! A hora é séria e solene; para trás, pois, todas as mesquinhas discussões, todas as preocupações pueris, todas as questões ociosas; e todas as vãs pretensões de preeminência e de amor-próprio; ocupai-vos dos grandes interesses que estão em vossas mãos e dos quais o Senhor vos pedirá conta. Uni-vos para que o inimigo encontre vossas fileiras compactas e cerradas; tendes uma palavra de união sem equívoco, pedra de toque com ajuda da qual podeis reconhecer os verdadeiros irmãos, porque esta palavra implica a abnegação e o devotamento, e resume todos os deveres do verdadeiro espírita. (KARDEC, [RE] 1863, p. 251-2)
Foi exatamente o que fizeram Amélie Boudet, Berthe Froppo, Gabriel Delanne, Léon Denis, Rosen-Dufaure, Henri Sausse, entre outros. Agora, na hora do resgate, dando continuidade ao trabalho de recuperação empreendido por Canuto Abreu, orientado pela mediunidade de Chico Xavier, será basilar a união fortemente compacta dos espíritas conscientes da verdadeira Doutrina liberal do Espiritismo, “união sem equívoco”, sem desvios de interesses da personalidade e materiais. Não importa o quanto essa tarefa possa ser considerada utópica ou sonhadora, divulgar a Doutrina Espírita não se trata simplesmente de conquistar uma meta a qualquer preço, mas de uma clareza quanto aos meios de se alcançar esse objetivo. Ao Espiritismo e aos verdadeiros espíritas, para alcançar o fim importam os meios.
Nada do que denunciou Canuto Abreu, e também as novas obras que atualmente reconstroem o caminho, estava fora do previsto pelos Espíritos superiores! Como comentou Kardec em referência às comunicações: ” Assim, pois, espíritas, coragem, confiança e perseverança, porque tudo vai bem segundo o que foi previsto”.
Mas como se podem explicar os desvios causados pelos próprios participantes do movimento espírita, em luta contra a Doutrina? Eles se sustentam pela obsessão de alguns médiuns, explica Erasto na mensagem seguinte:
Há no momento atual uma recrudescência de obsessão, resultado da luta que deve, inevitavelmente, sustentar as ideias novas contra seus adversários encarnados e desencarnados. A obsessão, habilmente explorada pelos inimigos do Espiritismo, é uma das provas mais perigosas que se terá que suportar antes de se assentar de maneira estável no espírito das populações. KARDEC, [RE] 1863, p. 252-3)
A questão da obsessão dos médiuns não só continuou, mas ampliou quando o movimento espírita se ampliou no Brasil. Vimos como Canuto Abreu aconselhou Chico Xavier como irmão mais velho, pedindo que mantivesse a simplicidade, anunciando os maiores escolhos do mediunato: soberba, egoísmo e cobiça. No decorrer das últimas décadas, centenas de livros ditados por falsos profetas inundaram as livrarias dos centros espíritas, espalhando falsidades propostas por Espíritos, alguns sábios inimigos que os dirigem para defender as ideias retrógadas do passado, outros são apenas ignorantes, agindo mesmo sem má-fé, ditando o que não deveria vir a público em livros pela imperfeição de suas ideias. Muitos médiuns, iludidos, não se limitando a servir aos pequenos grupos em suas reuniões, trabalho de grande importância, caem na tentação de buscar as mídias e os holofotes, agindo como anunciado há 150 anos:
De todas as partes surgem médiuns com pretensas missões, dizendo-se chamados a adotar nas mãos a bandeira do Espiritismo e a plantá-la sobre as ruínas do velho mundo, como se viéssemos destruir, logo nós que viemos somente para edificar. Não há individualidade, por medíocre que seja, que não tenha encontrado, como Macbeth, um espírito para lhes dizer: “Tu também serás rei”. E que não se julgue designado para um apostolado todo particular. Há poucas reuniões íntimas, e mesmo grupos familiares que não tenham contado, entre seus médiuns ou simples crentes, uma alma bastante envaidecida de si mesma para se crer indispensável ao sucesso da grande Causa, demais presunçosa para se contentar como modesto papel de obreiro, trazendo sua pedra ao edifício. Ah! Meus amigos, quantas pessoas discutem e nada fazem! (Ibidem)
Hoje absurdos são publicados, causando “decepções, dissabores, ridículo, por vezes a ruína”, o que é, em verdade, uma “justa punição do orgulho presunçoso que se crê chamado a fazer melhor que todo mundo”, mas que está “desdenhando os conselhos e desprezando os verdadeiros princípios do Espiritismo”, explica Erasto (Ibidem)
Os Espíritos condutores da Doutrina Espírita sabiam que haveria uma fase de confusão causada pela imprudência dos médiuns obsidiados e dos adeptos que os seguem. Pois os médiuns que servem aos bons Espíritos não estão livres de falsas mensagens, mas, modestos, “dão pouco valor às comunicações que recebem quando antes se afastam da verdade”. Enquanto os médiuns inspirados pelos Espíritos inferiores ” mantém contra todos a superioridade do que lhe é ditado, fosse isso mesmo absurdo”. Erasto afirmou que, “segundo as palavras pronunciadas na Sociedade de Paris, pelo seu presidente espiritual, São Luís, uma verdadeira Torre de Babel está em vias de se edificar entre vós”. Uma tragédia anunciada!
Há os hipócritas encarnados e os hipócritas da erraticidade. Aos retrógrados unem-se os inimigos invisíveis, denuncia Erasto, que, estando lá, podia ver toda a trama sendo armada na espiritualidade. Aqueles claramente agindo em favor do velho mundo, lutando contra o mundo novo que deseja nascer, promovendo ideias emancipadoras, liberais, da liberdade de pensar e crer, fundamentadas na autonomia intelecto-moral:
Aliás, seria preciso ser cego ou iludido para não reconhecer que, à cruzada dirigida contra o Espiritismo pelos adversários natos de toda doutrina progressiva e emancipadora, juntando-se a uma cruzada espiritual, dirigida por todos os Espíritos pseudossábios, falsos grandes homens, falsos religiosos e falsos irmãos da erraticidade, fazendo causa comum com os inimigos terrestres por meio dessa multidão de médiuns fanatizados por eles, e aos quais ditam tantas elucubrações mentirosas. (KARDEC, [RE] 1863, p. 254)
Anunciando que essa fase de deturpação que ainda vivemos terá fim, Erasto motiva a quem defende a Causa, dizendo que a verdade será restaurada:
Espíritas sinceros, não vos amedronteis com esse caos momentâneo. Não está longe o tempo em que a verdade, desembaraçada dos véus com que a querem cobrir, sairá mais radiosa que nunca, e em que a sua claridade, inundando o mundo, fará entrar na sombra seus obscuros detratores, postos em evidência durante alguns instantes para a sua própria confusão. (Ibidem)
Os conselhos para atingir esse objetivo são tão claros quanto, atualmente, urgentes. Vejamos:
. Tereis de vos defender não só contra os ataques e calúnias dos vossos adversários vivos, mas, também, contra as manobras ainda mais perigosas dos adversários da erraticidade. Fortalecei-vos, pois, por santos estudos e sobretudo pela prática do amor e da caridade, retemperai-vos na prece.
. Propagar a verdade de boa-fé e desprovidos de toda ambição pessoal. Importa que os médiuns são, antes de tudo, instrumentos! O importante são os ensinos, a pureza da moral ensinada, a limpeza e a precisão das verdades reveladas nas mensagens.
. Verificar se as instruções correspondem às boas almas, e se elas estão em conformidade com as leis gerais da lógica e da harmonia universal.
. Cuidado com os Espíritos imperfeitos que tomam, sem escrúpulos, os nomes mais venerados. Portanto: Não julgueis jamais uma comunicação mediúnica em razão do nome pelo qual está assinada, mas somente por seu valor intrínseco.
. O número dos médiuns é hoje incalculável, e é deplorável ver que alguns se julgam os únicos chamados a distribuir a verdade ao mundo e se extasiam ante banalidades que consideram monumentos. Pobres iludidos, que se abaixam passando sob arcos triunfais, como se a verdade devesse esperar sua vinda para ser anunciada!
. Nem o forte, nem o fraco, nem o instruído, nem o ignorante tiveram esse privilégio exclusivo; foi por mil vozes desconhecidas que a verdade se espalhou, e é justamente por essa unanimidade que ela se fez reconhecida.
. É urgente vos colardes em guarda contra todas as publicações de origem suspeita que apareçam, ou que vão aparecer, contra todas aquelas que não teriam o modo de proceder franco e limpo, e tende por certo que mais de uma foi elaborada nos campos inimigos do mundo visível ou do mundo invisível, tendo em vista lançar entre vós tochas de discórdia.
. A boa vontade nos basta quando ela é acompanhada do desejo de fazer o melhor. Em tudo, meus amigos, o relaxamento é pernicioso, porque será muito pedido àqueles que, depois de se terem elevado por uma renúncia generosa à sua própria individualidade, retornaram o culto da matéria, e se deixaram ainda invadir pelo egoísmo e o amor de si mesmos.
. Por fim: No entanto, oremos por aqueles que caem e não condenemos ninguém; porque devemos sempre ter presente à memória este magnífico ensino do Cristo: “Que aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra!”.
Este último conselho de Erasto é fundamental. Pois, para recuperar o verdadeiro ensinamento dos bons Espíritos, nessa atividade, os fins não justificam os meios. Ou seja, não se pode condenar sob o pretexto de servir ao bem.
Não se trata de uma caça às bruxas, buscando a formação de uma falange de anjos livres de todo o mal. Pois, explica Erasto, “não é que venha vos recomendar e não abrir vossas fileiras senão aos cordeiros sem mácula e às vitelas brancas; não, porque, mais do que todos os outros, os pecadores têm o direito de encontrar entre vós um refúgio contra as suas próprias imperfeições”. Mas trata-se de desconfiar em meio à multidão de adeptos os que são:
Hipócritas perigosos aos quais, à primeira vista, se é tentado a conceder toda a confiança. Com a ajuda de uma postura rígida, quando estão sob o olhar observador das multidões, conservam esse ar sério e digno que leva os outros a dizer deles: “Que pessoas respeitáveis”, ao passo que, sob essa respeitável aparência, por vezes são dissimuladas a perfídia e a imoralidade. São sociáveis, obsequiosos, cheios de gestos e amenidades; intrometem-se nos interiores; se intrometem com prazer na vida privada; escutam atrás das portas e se fazem surdos para melhor ouvirem; pressentem as inimizades, as instigam e as entretêm; vão nos campos opostos questionando e interrogando sobre cada um. Que faz este? De que vive aquele? Quem é essa pessoa? Conheceis sua família? Depois os vereis ir secretamente destilar na sombra as pequenas maledicências que puderam recolher, tendo o cuidado de ainda as envenenar por piedosas calúnias. “São apenas boatos”, dizem, “nos quais não acreditamos”; mas, no entanto, acrescentam: “Não há fumaça sem fogo etc”. A esses hipócritas da encarnação reuni os hipócritas da erraticidade , e vereis, meus caros amigos, quanto tenho razão de vos aconselhar agir doravante com uma reserva extrema, e vos guardar de toda imprudência e de todo o entusiasmo irrefletido. (KARDEC, [RE] 1863, p. 255)
Isso ocorre quando se está num momento de crise, completa Erasto, “dificultado pela malevolência, mas do qual saireis mais fortes com firmeza e perseverança”. Os hipócritas, falsos adeptos, publicam livros por toda parte, espalham artigos difamatórios e improdutivos, fazem críticas excessivas a tudo e a todos, sobem às tribunas fazendo sermões inflamados. Tudo anunciado por Erasto em sua comunicação a Kardec. Atualmente, ainda utilizam as mídias eletrônicas, além das impressas, tomando de assalto o rádio, a TV e as redes sociais. Todos, agindo contra ou a favor, pressentem que o Espiritismo traz em si o princípio de uma renovação, que uns chamam de promessas e outros temem, afirma o bom Espírito Erasto. E então pergunta retoricamente: “Mas, de tudo isto, que restará? Desta Torre de Babel que surgirá?”. E, de forma esclarecedora, conclui:
Uma coisa intensa: a vulgarização da ideia espírita, e como doutrina, o que são verdadeiramente seus princípios fundamentais! Esse conflito é inevitável, porque o homem está manchado de muito orgulho e de egoísmo para aceitar sem oposição uma verdade nova qualquer; digo mesmo que esse conflito é necessário, porque é a colisão de ideias que decompõe as ideias falsas e faz ressaltar a força daquelas que resistem. No meio dessa avalanche de mediocridades, de impossibilidades e de utopias irrealizáveis, a verdade esplêndida desabrochará em sua grandeza e sua majestade. Erasto. (Ibidem)
Como afirmou, Kardec via o objetivo a ser alcançado e sabia as razões e fatos que, naquele momento, não deveria divulgar. Mas elaborou cuidadoso arquivo para que futuramente a verdadeira história pudesse ser contada, denunciando os judas e ressaltando os pioneiros leais. O período de luta ainda iria durar mais tempo, e ela “determinará uma nova fase do Espiritismo e conduzirá ao quarto período, que será o período religioso”.
O período de luta foi o período que continuou depois da morte de Kardec, quando os pioneiros se desdobraram para manter a Doutrina Espírita como ciência filosófica e doutrina liberal. A meu ver, enquanto isso, os inimigos invisíveis, por meio de uns poucos deturpadores, trabalharam para transformar o Espiritismo numa religião exclusivista, como denunciou Canuto Abreu, fazendo-o vivenciar o quarto período, ou período religioso, que perdura até hoje.
Mas Kardec anunciou ainda que “depois virá o quinto, período intermediário, consequência natural do precedente, e que receberá mais tarde sua denominação característica”. Mas por que seria um período intermediário? Na sequência teremos a resposta, pois ele antecede ao sexto e derradeiro, o período da renovação social:
O sexto e último período será o da renovação social, que abrirá a era do século vinte. Nessa época, todos os obstáculos à nova ordem de coisas queridas por Deus, para transformação da Terra, terão desaparecido; a geração que se levanta, imbuída de ideias novas, será toda a sua força, e preparará o caminho daquela que inaugurará o triunfo definitivo da união, da paz e da fraternidade entre os homens, confundidos numa mesma crença pela prática da lei evangélica. (KARDEC, [RE] 1863, p. 251)
Para Kardec, esses períodos do Espiritismo representam o cumprimento das profecias de Jesus, “porque os tempos preditos estão chegados”.
Referência:
1- Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo/Paulo Henrique de Figueiredo – São Paulo(SP): Fundação Espírita André Luiz, 2019.